Homenagem em Vila Nova de Famalicão

Lino Lima, combatente<br>de todas as horas

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O Se­cre­tário-geral do PCP, Je­ró­nimo de Sousa, es­teve pre­sente an­te­ontem na sessão so­lene que marcou a aber­tura das co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário de Lino Lima, na Câ­mara Mu­ni­cipal de Vila Nova de Fa­ma­licão. A ce­ri­mónia ocorreu no dia do ani­ver­sário de Lino Lima, des­ta­cado mi­li­tante do PCP, ad­vo­gado e membro da Opo­sição De­mo­crá­tica, após a inau­gu­ração de uma pra­ceta com o seu nome, junto aos Paços do Con­celho. O sino da igreja mais pró­xima mar­cava as 15, hora do início da sessão que contou, para além de Je­ró­nimo de Sousa, com a pre­sença do pre­si­dente da Câ­mara de Fa­ma­licão, Paulo Cunha, fa­mi­li­ares e amigos de Lino Lima e ainda largas de­zenas de mi­li­tantes do PCP que qui­seram marcar pre­sença com a sua ho­me­nagem.

Após a inau­gu­ração de um largo junto à Câ­mara Mu­ni­cipal, com a co­lo­cação de uma placa alu­siva que o passou a no­mear «Pra­ceta Lino Lima», o Se­cre­tário-geral do PCP, acom­pa­nhado do pre­si­dente da Câ­mara, vi­sitou a ex­po­sição bi­o­grá­fica do ad­vo­gado co­mu­nista à en­trada dos Paços do Con­celho. Esta mostra faz parte do con­junto de ini­ci­a­tivas que darão corpo, du­rante todo o ano, no con­celho de Vila Nova de Fa­ma­licão, às co­me­mo­ra­ções deste cen­te­nário. O pro­grama evo­ca­tivo con­tará, ainda, com a re­a­li­zação de um co­ló­quio e com a edição de uma bro­chura com notas bi­o­grá­ficas, de­poi­mentos e tes­te­mu­nhos de fa­mi­li­ares e amigos de Lino Lima.

Vencer o es­que­ci­mento

A sessão so­lene, que se re­a­lizou de se­guida no Salão Nobre da au­tar­quia fa­ma­li­cense, onde não cou­beram nem me­tade dos pre­sentes, contou com uma in­ter­venção ini­cial do in­ves­ti­gador Artur Sá da Costa. Este lem­brou Lino Lima como «um dos eleitos que vencem o es­que­ci­mento, com­ba­tente de todas as horas», va­lo­ri­zando as co­me­mo­ra­ções do seu cen­te­nário como forma de manter pre­sente o seu con­tri­buto para a cons­trução da de­mo­cracia.

Sá da Costa fez uma vi­agem pela vida de Lino Lima, que nasceu no Porto mas que, vindo para Vila Nova de Fa­ma­licão ainda em cri­ança, foi ali que cresceu, es­tudou e tra­ba­lhou en­quanto ad­vo­gado – de­pois de uma in­cursão por Coimbra, onde tirou o curso de Di­reito e se as­so­ciou ao mo­vi­mento es­tu­dantil e às suas lutas. Com uma per­so­na­li­dade plu­ri­fa­ce­tada, que o in­ves­ti­gador vá­rias vezes re­feriu ao longo da sua in­ter­venção, Lino Lima des­tacou-se pela sua par­ti­ci­pação cí­vica e po­lí­tica. Mi­li­tante do PCP desde 1941, aceitou as duras ta­refas da clan­des­ti­ni­dade, tendo sido preso quatro vezes e tendo-se man­tido firme aos seus ideais, prin­cí­pios e ao seu par­tido.

O co­or­de­nador da pro­gra­mação das co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário lem­brou ainda que, quando con­vi­dado a aderir ao PCP, Lino Lima disse sentir-se «ide­o­lo­gi­ca­mente pre­pa­rado para dar este passo», tendo então «dito sim de co­ração». A sua ab­ne­gação, ca­rac­te­rís­tica que a par da sua co­ragem e da sua ver­ti­ca­li­dade foi vá­rias vezes su­bli­nhada du­rante a sessão, fez com que sa­cri­fi­casse a sua vida pes­soal e fa­mi­liar em nome da sua ac­ti­vi­dade po­lí­tica e em nome da li­ber­dade e da de­mo­cracia.

Prova do seu ca­rácter, lem­brou o in­ves­ti­gador as pa­la­vras de Lino Lima aquando da sua li­ber­tação da prisão fas­cista, na al­tura da der­rota do nazi-fas­cismo na guerra: «sinto uma ale­gria muito grande (…). O mais im­por­tante de tudo é poder olhar os meus ca­ma­radas sem ter que baixar os olhos», prova da sua le­al­dade e re­sis­tência à tor­tura na prisão.

Me­re­cida di­mensão his­tó­rica

Dis­curso elo­gioso foi também o do pre­si­dente da Câ­mara de Vila Nova de Fa­ma­licão, que apro­veitou para agra­decer ao PCP o seu con­tri­buto ines­ti­mável na pre­pa­ração desta sessão so­lene e de todo o pro­grama evo­ca­tivo do cen­te­nário de Lino Lima. Paulo Cunha des­tacou a in­tenção, desde início, de dar a estas co­me­mo­ra­ções a dig­ni­dade e di­mensão his­tó­rica me­re­cidas, ad­mi­tindo que é o papel da Câ­mara Mu­ni­cipal re­co­nhecer a his­tória do seu con­celho e evi­den­ciar per­so­na­li­dades que dela te­nham feito parte.

Lino Lima foi um dos mais des­ta­cados ad­vo­gados do seu tempo, tanto na co­marca como na de­fesa dos presos po­lí­ticos nos tri­bu­nais ple­ná­rios. Na sua ac­ti­vi­dade po­lí­tica, para além de ci­dadão ac­tivo, opo­sitor à di­ta­dura, mi­li­tante do PCP e de­pu­tado, fez ainda parte das co­mis­sões na­ci­o­nais do MUNAF e do MUD e foi líder da Opo­sição De­mo­crá­tica no dis­trito de Braga, grupo que se au­to­de­no­mi­nava de «Os De­mo­cratas de Braga», ao lado de ou­tros des­ta­cados co­mu­nistas e de­mo­cratas, como Vítor Sá ou Hum­berto So­eiro.

É como «ci­dadão exem­plar» que Lino Lima é lem­brado, su­bli­nhando o pre­si­dente da Câ­mara a im­por­tância de deixar esse «le­gado de exem­pla­ri­dade», que se quer evi­den­ciar com estas co­me­mo­ra­ções, como marco no es­paço pú­blico e na cons­ci­ência co­lec­tiva «que há-de ficar para sempre», re­fe­rindo-se à inau­gu­ração da Pra­ceta Lino Lima, em opo­sição ao ca­rácter mais efé­mero que os ou­tros mo­mentos do pro­grama re­pre­sentam.

José Ma­nuel Aguiar, fa­mi­liar de Lino Lima, con­vi­dado a estar pre­sente também, lem­brou que este era «um amante da vida» e que «falar do cen­te­nário do seu nas­ci­mento é falar da sua vida». E acres­centou: «esta ho­me­nagem, se­gu­ra­mente, senti-la-ia [Lino Lima] como uma ho­me­nagem também às cen­tenas de ho­mens e mu­lheres da sua ge­ração que lu­taram pela li­ber­dade.» 

Je­ró­nimo de Sousa evoca
«homem de con­vic­ções e ca­rácter»

In­ter­vindo no en­cer­ra­mento da sessão, Je­ró­nimo de Sousa va­lo­rizou a ho­me­nagem pres­tada a «um homem de con­vic­ções e de ca­rácter que desde cedo fez op­ções, co­lo­cando-se ao lado dos in­jus­ti­çados, dos mais frá­geis, do lado da de­mo­cracia e da li­ber­dade». O Se­cre­tário-geral do PCP su­bli­nhou jus­ta­mente o valor dessa opção, «tendo em conta a sua origem e vi­vência fa­mi­liar e pro­fis­si­onal», que o po­de­riam ter le­vado a não a fazer.

Je­ró­nimo de Sousa lem­brou ainda que a maior ale­gria da vida de Lino Lima tinha sido a re­vo­lução li­ber­ta­dora de Abril e que, ime­di­a­ta­mente após a con­quista da li­ber­dade, cedeu a sua casa para tratar da or­ga­ni­zação do Par­tido, con­cre­ti­zando o alu­guer de uma casa para o fun­ci­o­na­mento do pri­meiro Centro de Tra­balho em Vila Nova de Fa­ma­licão.

Por outro lado, «a sua maior tris­teza foi o acto de van­da­lismo e de ter­ro­rismo que se ma­te­ri­a­lizou no in­cêndio e des­truição total do seu es­cri­tório, dos pa­péis e do acervo de do­cu­mentos que tes­te­mu­nhavam a sua vida apai­xo­nante», evi­den­ciou. Apesar disso, Lino Lima man­teve o seu ideal, com uma con­vicção imensa, bem ex­pressa, como disse Je­ró­nimo de Sousa, na sua ac­ti­vi­dade par­la­mentar, «sempre acom­pa­nhada por um humor e ironia cer­teiros e de­mo­li­dores».

O Se­cre­tário-geral do PCP ter­minou afir­mando que é justa a ho­me­nagem ali pres­tada ao Lino – como o tratou du­rante toda a sua in­ter­venção, subs­ti­tuindo apenas a forma ca­lo­rosa e de grande ca­ma­ra­dagem e ami­zade por «homem ín­tegro, homem de co­ragem, que lutou muito pela li­ber­dade e a de­mo­cracia, que tomou como suas as dores, as in­jus­tiças e o so­fri­mento do povo a que per­tencia».




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